Tuesday, April 04, 2006

Movimentações. Alianças estratégicas. China.

por Jeffrey Nyquist em 30 de março de 2006


A aliança entratégica entre Rússia e China continua a
crescer, abrangendo um
círculo cada vez maior de pequenos sócios no
Hemisfério Ocidental (incluindo
Cuba, Venezuela, Brasil, Bolívia e até o México).
China e México
congratulam-se em parcerias estratégicas, causando
confusão naqueles que
ignoram os ressentimentos nacionais e os rancores
históricos. Para aqueles
que têm alguma sabedoria em assuntos internacionais,
um respeitoso silêncio
em torno da inferência estratégica sobre esse tema é
socialmente
recomendável. Em dezembro, o primeiro-ministro chinês
Wen Jaobao
encontrou-se com o presidente mexicano Vicente Fox,
que disse que Wen
escolheu o México como seu primeiro destino
internacional por um bom motivo.
Os dois países estão destinados a reforçar seus laços
bilaterais, lutando
juntos por um mundo mais igual.

Alguém poderia perguntar o que há de tão desigual que
exija o fortalecimento
desta singular parceria. Os estrategistas e os
historiadores devem se
lembrar da importância logístico-militar, das
aspirações militares e da
contribuição do ex-ministro das Relações Exteriores da
Alemanha Imperial,
Arthur Zimmermann, e seu famoso telegrama de 16 de
janeiro de 1917.
"Pretendemos iniciar uma irrestrita guerra de
submarinos", explicou
Zimmermann ao embaixador alemão em Washington. "Temos
de nos esforçar,
apesar disso, em manter os Estados Unidos neutros.
Caso não consigamos,
façamos uma proposta de aliança ao México nas
seguintes bases: declarar
guerra conosco, fazer as pazes conosco, generoso apoio
financeiro, e um
entendimento, de nossa parte, se o México procurar
reconquistar os
territórios do Texas, Novo México e Arizona.
Deixaremos os detalhes da
colonização com vocês".

Poderosos países anti-democráticos da Ásia e da Europa
há muito tempo sonham
em dominar suas respectivas regiões. Desde 1917,
surgiu diante deles um
grande obstáculo (isto é, os Estados Unidos da
América). Os japoneses
bateram de frente nesse obstáculo em 1941. Russos,
chineses, iraquianos,
norte-coreanos e norte-vietnamitas também tiveram suas
experiências em
primeira mão (junto com alemães e italianos). Por mais
de 100 anos, os
Estados Unidos preferiram a neutralidade, conforme
recomendado por George
Washington. Mas a realidade estratégica moderna - a
realidade dos
submarinos, porta-aviões, bombardeiros, mísseis - dita
a política americana
de compromisso, pelo menos para evitar o isolamento
dos Estados Unidos
diante de uma aliança de potências totalitárias. Era
uma aliança, não tenham
dúvida, que Arthur Zimmermann estava forjando quando
em 1917 escreveu ao seu
embaixador em Washington: "Você informará o presidente
[do México] do
supracitado na mais alta secretude, assim que a guerra
com os Estados Unidos
estiver para acontecer, e sugira a ele que convide,
por iniciativa própria,
o Japão a aderir imediatamente e que atue como
mediador entre o Japão e
nós".

O cerco a prováveis inimigos é uma tática antiga. No
caso do México, uma
aliança asiática é uma proposta respeitável. Mas,
lamentavelmente para
Arthur Zimmermann, sua idéia estava 89 anos à frente
de seu tempo. A função
do México para um país asiático aspirante à potência
era óbvia em 1917. Para
que essa utilidade se tornasse efetiva, porém,
condições especiais eram
necessárias. Não é que o México se recuse a formar uma
aliança contra os
Estados Unidos. Se o México tivesse potência militar
suficiente (ou se a
América estivesse de joelhos), uma invasão mexicana
seria inevitável. Mas o
México é uma potência militarmente fraca, e a América
é uma potência muito
forte. Mas, novas armas em uma nova era, em meio a
vulnerabilidades
recentemente descobertas e um sistema econômico
precário que exija
fronteiras abertas para continuar operando, são
indícios de que uma vindoura
"virada de mesa" está a caminho.

Quando um país estrategicamente importante como a
China estende a mão a um
país insignificante como o México, devemos nos
perguntar se esse país
insignificante terá um significativo papel no futuro.
Em sua resposta à
inferência de Vicente Fox a respeito da recente
importância do México, o
premier chinês falou de fortalecer "a confiança mútua"
e de uma "cooperação
mais profunda" entre os dois países. "Nossas relações
oferecem a nós uma
oportunidade estratégica ímpar", disse o premier
chinês. É um traço peculiar
da psicologia social o fato de os americanos não
conseguirem perceber que a
China considera o comércio como uma arma estratégica.
E devemos distinguir a
esfera econômica da esfera estratégica. O México está
se tornando um novo
destino turístico do público chinês. Os dois países
estão se juntando,
também, para promover os interesses de países em
desenvolvimento e para
promover a "paz mundial".

A parceria da China com o México deve ser entendida
comparando-a com a
parceria da China com a Rússia. Considere a seguinte
informação relevante:
na Rússia, o Gen. Vladimir Vasilenko, chefe do 4º
Instituto Central de
Pesquisa Científica do Ministério de Defesa da Rússia,
assinalou o desejo de
Moscou de retirar-se do Tratado INF (*), posicionando
novos mísseis de médio
alcance. Numa declaração que prefigura um futuro
anúncio do Kremlin, o Gen.
Varfolomey Korobushkin, primeiro vice-presidente da
Academia Militar de
Ciências da Rússia, disse: "A construção de um novo
sistema de mísseis de
defesa nos Estados Unidos provocará inevitavelmente
uma nova corrida
nuclear".

Por que os russos estão interessados em mísseis de
médio alcance?

A menor distância entre dois pontos geralmente está no
mesmo hemisfério. O
posicionamento da China no Hemisfério Ocidental, por
exemplo, tem
importância especial. De acordo com o Gen. Bantz J.
Craddock, do Comando do
Sul dos EUA, a China está oferencendo apoio e
treinamento militar à América
Latina. Conforme escreveu Bill Gertz, correspondente
do Washington Times, em
sua coluna de 15 de março, "O crescente papel da China
[na América Latina]
vem em meio a diversas visitas de alto escalão de seus
líderes e outras
atividades destinadas à formação de laços militares e
econômicos com
governos esquerdistas e outros países, numa região
estratégica considerada
há muito como estando dentro da esfera de influência
dos EUA".

Além da óbvia prontidão em treinar soldados cubanos,
venezuelanos e
bolivianos, os chineses atualmente estão fornecendo
hardware militar aos
"amigos" latino-americanos. O treinamento intensivo de
oficiais de
artilharia cubanos leva alguns observadores a se
perguntarem se Cuba
pretende adquirir seus próprios mísseis de médio
alcance (da Rússia, China
ou Irã). Um recente visitante de Cuba foi o Gen. Peng
Xiaofeng, comissário
das forças de mísses da China. De acordo com o Gen.
Craddock, os EUA sabem
"quase nada" sobre a extensão das atividades
estratégico-militares dos
chineses no Hemisfério Ocidental. Acrescente a isso a
penetração econômica
chinesa e a subversão política do Canadá, e uma visão
mais clara do cerco
estratégico ficará evidente.

De 21 a 22 de março, o presidente Vladimir Putin
esteve na China. Empregando
fórmulas eufemísticas, russos e chineses disseram que
desejam uma "solução
diplomática" no Oriente Médio. É claro, uma solução
diplomática significa
deixar os fanáticos muçulmanos adquirirem armas
nucleares - algo que os
russos os encorajam há muitos anos.

Tudo aqui está interligado.


(*) Tratado assinado em 1980 pelos Estados Unidos e a
União Soviética que
garante o afastamento de mísseis nucleares de pequeno
e médio alcance da
Europa. (N. do T.)

© 2006 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM