Thursday, October 13, 2005

A sabedoria de Hugo Chávez no Roda Viva

A sabedoria de Hugo Chávez no Roda Viva

Por Izaías Almada

Argumentos tirados da lata do lixo...


A frase acima foi usada pelo presidente Hugo Chávez como parte de uma resposta dada a
um jornalista de O Estado de São Paulo no programa Roda Viva da segunda-feira, 3 de
outubro.

Não sei se o leitor teve a oportunidade de assistir ao programa. Fiquei sabendo
quase em cima da hora, pois a "discrição" com que foi anunciado na mídia já
demonstrava mais uma vez o preconceito contra a emblemática figura de Chávez. E lá
fui eu, postar-me em frente ao televisor, na expectativa de assistir a um debate de
alta qualidade intelectual e política, uma vez que o tradicional programa, em
inúmeras de suas edições, já quase a alcançar o milhar, o comprovou em várias
oportunidades.

O de segunda-feira, no entanto, deixou a desejar. Não pela figura do presidente
venezuelano, sempre franco, educado, sabedor de que devia se ater aos problemas da
América Latina e - em particular - aos problemas da sua nova Venezuela. A decepção
ficou por conta da mediocridade (e em alguns casos má fé mesmo) com que alguns dos
entrevistadores se comportaram. Salvo as exceções de Fernando Morais e Bob Fernandes,
que procuraram levantar questões pertinentes à importância e ao momento histórico do
entrevistado, os outros integrantes da roda se comportaram (tão em moda na imprensa
brasileira atual) mais como inquisidores do que propriamente entrevistadores. Pior
ainda: inquisidores mal preparados.

Nesse particular, o destaque fica para os três profissionais de três jornalões
brasileiros, Folha, Estadão e Correio Brasiliense, que fizeram a ridícula figura de
ventríloquos, como se estivessem ali a repetir uma pequena lista de perguntas feitas
pelos donos dos jornais onde trabalham. Apequenaram (um pouco mais) o jornalismo
brasileiro com perguntas ultrapassadas, viciadas em seus argumentos, baseadas em
estatísticas ultrapassadas, desmentidas pelo próprio presidente Chávez, numa
demonstração inequívoca de que não estavam preparados para o debate. As velhas e
surradas questões da liberdade em Cuba, de Chávez querer a cubanização da Venezuela,
esquecendo-se tais profissionais que Chávez conta com o apóio de mais de 70% da
população da Venezuela, depois de enfrentar várias eleições e um golpe de Estado.
Repetem-se como papagaios.

Após as primeiras perguntas feitas, Chávez percebeu quem estava ali para
dialogar com alguma seriedade e quem estava ali para provocar. E com os provocadores
não teve contemplação. Não deu muita atenção à "sisuda e inteligente" figura de
Eliane Catanhêde, articulista da FSP, que parecia não saber muito bem o que estava
fazendo ali, a ponto de cometer a indelicadeza (provocação intencional) de querer que
o entrevistado comparasse o seu governo com o governo de Lula.

Quando inquirido pelo tal jornalista do Estadão sobre a eventual falta de
democracia e liberdade de expressão e/ou de imprensa na Venezuela, Chávez -
habilidosamente e sem perder a compostura - respondeu: "tenho pena de ver um jovem
jornalista como o senhor ir buscar os seus argumentos na lata do lixo (da história),
como faz boa parte da imprensa venezuelana", demonstrando que não estava ali para
responder a questões que a realidade latino-americana está dando por vencida, numa
nova etapa de luta de seus povos em busca de uma alternativa ao neoliberalismo
globalizante tão ao gosto de jornalistas que, para não perderem o emprego, continuam
a lamber o saco de seus patrões.

Perguntado ao final do programa se acreditava em Deus, pergunta original e
profunda, o presidente venezuelano respondeu que se considerava um verdadeiro
cristão, pois Cristo foi o primeiro e grande socialista da História e Judas, o
primeiro capitalista, que traiu seu mestre (ou povo) por 30 dinheiros. Será que a
maioria dos jornalistas presentes entendeu o recado?

Izaías Almada é escritor e dramaturgo.

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