Friday, October 28, 2005

Considerações Sobre O liberalismo econômico/politico. Contexto Escandinavo.

REALIDADE ESCANDINAVA

por Rodrigo Constantino, economista
"The matter of knowledge and discovery is not so much in dealing with
what we know, as in dealing with what we do not know." (Karl Popper)

A idolatria ao deus Estado é uma doença grave, e infelizmente muito
comum. Normalmente fruto de uma lavagem cerebral comunista e marxista
quando jovem, ela pode acompanhar a vítima para sempre. O dogmatismo
ideológico impede que a lógica exerça influência no cérebro, e fatos
contraditórios à teoria machucam, sendo devidamente ignorados. Tal
dissonância cognitiva, que costuma virar rigidez com o tempo, explica
a reação dos comunistas com a queda do Muro de Berlim e império
soviético. Desamparados, desiludidos, muitos trocaram o vermelho do
sangue da foice comunista pelo vermelho desbotado da social
democracia. Muitas vezes, tal nome não passa de eufemismo para Estado
autoritário. Coletivistas que detestam a liberdade individual e o
sistema de livre mercado, com trocas voluntárias, buscaram abrigo no
sucesso dos países escandinavos, pregando que o welfare state foi a
causa da riqueza deles. Algo bem longe da verdade...

Como o desejo que guia essa gente não é a busca sincera pela verdade,
mas sim uma patológica necessidade de preservar uma crença dogmática,
fazem como os crentes fanáticos, que abominam qualquer questionamento
sério. Precisam "provar" que o Estado interventor é a razão do sucesso
escandinavo, e desta forma não tentam refutar tal hipótese, como
ensinaria Popper, mas sim achar qualquer correlação espúria, e ponto
final. Correlação passa a ser o mesmo que causalidade. Não importa que
tal linha de "raciocínio" possa levar à conclusão de que água mata, já
que todos que bebem água um dia morrem. Ou então que o frio gera
riqueza, já que muitos países ricos são frios. Como já foi dito, a
lógica não tem nada a ver com as análises dessas pessoas. Mas vamos
então aplicar os ensinamentos de Popper, e tentar refutar a hipótese
de que foi o welfare state que permitiu o avanço escandinavo.

Em primeiro lugar, teríamos que selecionar os países ricos, com baixa
miséria e bons indicadores sociais, e buscar o denominador comum
deles. Veríamos que no topo da lista de IDH, estão também países como
Suíça, Estados Unidos, Austrália, Cingapura e Taiwan. Não são, nem de
perto, ícones do modelo de welfare state. Curiosamente, são os mesmos
países que lideram o ranking de liberdade econômica, abertura
comercial, competitividade e ambiente de negócios. O que existe em
comum nos vencedores não é o Estado inchado e interventor ao extremo,
mas o império da lei, o capitalismo, a abertura comercial e a razoável
liberdade econômica.

Além disso, veríamos outras duas coisas interessantes. Primeiro, que
os escandinavos já eram ricos antes do welfare state. Na verdade, eram
ainda mais ricos em termos relativos, e perderam posição no ranking.
Segundo, que vários outros países com Estado grande e "babá" estão no
final da fila em termos de riqueza e indicadores sociais. Basta
lembrar que Cuba tem um Estado ultra interventor, com pesados
investimentos em educação e foco "social". Até mesmo o Brasil conta
com um Estado bastante interventor, com elevados gastos sociais. Ou
seja, inúmeros países que adotaram o welfare state ficaram para trás,
miseráveis. São países que não adotaram o capitalismo, o livre
comércio e o império da lei. Como fica evidente, o welfare state não é
causa de sucesso, mas conseqüência. E os escandinavos não são ricos
por causa do Estado grande, mas a despeito dele. Vamos ver agora
alguns detalhes específicos.

A Suécia, apesar de benefícios extensos pelo Estado, conta com um
capitalismo high-tech, e as empresas do setor privado são responsáveis
por cerca de 90% da indústria nacional. O governo vem mostrando
compromisso com a disciplina fiscal, buscando um grande superávit. Em
educação, foi adotado o modelo de vouchers, proposto pelo liberal
Milton Friedman, de Chicago. Quem acha que a Suécia é o ícone da
esquerda, está bastante enganado. Um Carlos Lessa não teria voz por
lá. Ainda assim, não custa lembrar que a Suécia tem renda per capita
menor que a dos negros americanos, grupo com menor índice nos Estados
Unidos. O peso do Estado...

A Islândia tem uma economia basicamente capitalista, ainda que com
extensivo welfare state. As medidas políticas incluem a redução do
déficit fiscal, a limitação do endividamento do governo, o combate à
inflação e a privatização das empresas estatais. A Finlândia conta com
uma grande economia de livre mercado, e desponta na lista de
competitividade empresarial. A Noruega combina intervenção estatal com
livre mercado, mas seu sucesso recente vem mesmo do petróleo, já que o
pequeno país é o terceiro maior exportador do mundo. A economia estava
estagnando antes da alta do petróleo, e o governo, preocupado com a
queda das reservas, vem mantendo o programa de privatização. A
Dinamarca, por fim, tem uma moderna economia de mercado, com alta
dependência do comércio externo. Os objetivos do governo são atacar a
burocracia e privatizar novos ativos estatais.

As conclusões são claras, para quem não sofre de rigidez cognitiva.
Não é o welfare state o responsável pelo sucesso escandinavo. Esses
países já eram ricos antes, contam com razoável abertura comercial e
economia de mercado, e ainda vem, cada vez mais, reduzindo o papel do
Estado, pelo fardo que este representa. Mas não adianta explicar isso
tudo para um crente estatólatra. Ele não vai buscar o que deu certo na
maioria dos casos. O denominador comum será um detalhe ignorado. Ele
quer apenas copiar os fracassos, e toda a sua análise tem um só
objetivo: enaltecer o papel do Estado. A razão não tem vez contra a
patologia. E como Popper nos ensinou, "não é possível discutir
racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos
nossos argumentos". Nos resta apenas lamentar...